Transtornos na Infância – Como Compreender para Incluir com Empatia

Em um mundo que caminha, ainda que lentamente rumo à inclusão, compreender os transtornos na infância torna-se não apenas um gesto de empatia, mas uma necessidade urgente para construirmos uma educação verdadeiramente acolhedora. Quando educadores, pais e a sociedade em geral aprendem a olhar com sensibilidade para as diferenças neurológicas e comportamentais, abrem-se caminhos para o respeito, a valorização da diversidade e, principalmente, para o desenvolvimento integral de cada criança. Devemos respeitar o ritmo e características no aprendizado de cada um deles e seguir nosso caminho na educação de forma suave e acolhedora.

Este artigo convida você a refletir sobre os principais transtornos do neurodesenvolvimento que afetam a infância, a importância de uma escuta ativa e livre de julgamentos, e as estratégias que podem transformar a sala de aula em um espaço onde todos pertencem. Afinal, incluir é mais do que aceitar — é compreender com o coração e agir com intenção e diga-se de passagem, intenção é tudo!

O que são os transtornos do neurodesenvolvimento na infância?

Os transtornos do neurodesenvolvimento são condições que afetam o funcionamento do cérebro desde os primeiros anos de vida, interferindo em áreas como a linguagem, a atenção, o comportamento, a cognição, as emoções e a interação social. São condições de base neurológica, ou seja, não são “culpa” de ninguém — e tampouco resultado de má criação ou negligência.

Abaixo, exploramos os principais transtornos presentes na infância, suas características e comportamentos mais comuns:

1. Transtorno do Espectro Autista (TEA)

O TEA não é uma doença, mas sim uma condição do neurodesenvolvimento – ou seja, uma maneira diferente de o cérebro se desenvolver e processar as informações. Pessoas com TEA têm características que variam bastante de uma pessoa para outra. O TEA é caracterizado por desafios na comunicação social e pela presença de comportamentos repetitivos e interesses restritos. Os sinais variam bastante de uma criança para outra — por isso se fala em “espectro”.

Comportamentos comuns:

  • Dificuldade em manter contato visual ou iniciar interações sociais
  • Atraso ou ausência da fala verbal
  • Uso repetitivo de palavras ou frases (ecolalia)
  • Interesse intenso por temas específicos
  • Hipersensibilidade a sons, luzes ou texturas
  • Resistência a mudanças na rotina

2. Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)

O TDAH é uma condição do neurodesenvolvimento que envolve déficits persistentes de atenção, impulsividade e/ou hiperatividade. É um dos transtornos mais diagnosticados na infância e pode interferir significativamente no ambiente escolar e social. Devemos olhar para aqueles que apresentam esse transtorno, com muito mais paciência e empatia, compreendendo que não se trata de falta de educação ou preguiça e sim, que existe uma diferença real no funcionamento cerebral, especialmente em áreas ligadas a atenção, ao controle de impulsos e a regulação das emoções.

As causas podem ser multifatoriais como: Influência genética, prematuridade, exposição à substâncias na gravidez ou complicações no parto, podem influenciar no surgimento dessa condição. O mais importante é entender que crianças (e adultos) com TDAH, podem ter muito sucesso e qualidade de vida, desde que recebam cuidado, apoio adequado e respeitos às suas necessidades.

Os comportamentos mais comuns, podem afetar o desenvolvimento escolar, social e familiar, e estes são:

  • Dificuldade em manter o foco por longos períodos
  • Esquecimento frequente de tarefas ou objetos
  • Agitação motora constante
  • Dificuldade em esperar a vez ou seguir regras
  • Fala excessiva ou impulsividade em interromper os outros

3. Dislexia

A dislexia é um transtorno específico da aprendizagem que afeta a habilidade de ler, escrever e soletrar e leitura e sem relação com a inteligência da criança. Muitas vezes é confundida com desatenção ou preguiça, o que pode gerar frustrações e baixa autoestima, desestímulos em relação aos estudos e estresses constantes de alunos e pais no decorrer do processo de aprendizagem.

Comportamentos comuns:

  • Troca de letras ao ler ou escrever
  • Leitura lenta, hesitante e com pausas frequentes
  • Dificuldade em reconhecer rimas ou sons iniciais das palavras
  • Escrita desorganizada, com muitos erros ortográficos
  • Evitação de atividades que envolvem leitura ou escrita, devido a frustracao

4. Transtorno do Desenvolvimento da Linguagem (TDL)

O TDL se manifesta quando a criança tem atrasos significativos no desenvolvimento da linguagem oral, sem que haja outras condições neurológicas ou sensoriais envolvidas.

Comportamentos comuns:

  • Vocabulário muito restrito para a idade
  • Dificuldade em formar frases completas ou compreensíveis
  • Frustração ao tentar se expressar
  • Problemas para entender instruções simples
  • Troca de sons ou omissão de sílabas

5. Dispraxia (ou Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação – TDC)

A dispraxia afeta a coordenação motora e pode envolver tanto movimentos finos quanto grossos. A criança entende o que precisa ser feito, como por exemplo: Amarrar os tênis, escrever ou montar um quebra-cabeças, mas tem dificuldades em planejar e executar esses movimentos de forma coordenada. É também chamada de Transtorno do desenvolvimento da coordenação – TDC. Não é tão conhecida como o TDAH ou o Autismo, mas é relativamente comum. Estima-se que entre 5% e 6% das crianças em idade escolar, apresentam algum grau da dispraxia – o que mostra que ela não é tão rara, embora muitas vezes seja subdiagnosticada. Pode afetar a organização espacial e até a fala. É importante ressaltar que a dispraxia não tem relação com a inteligência, a criança que apresenta esse transtorno tem inteligência normal, o desafio se encontra na comunicação entre o cérebro e o corpo.

Comportamentos comuns:

  • Dificuldade em vestir-se, amarrar cadarços, usar talheres
  • Quedas frequentes ou tropeços
  • Escrita manual lenta e ilegível, com dificuldades para escrever, desenhar, cortar com tesoura.
  • Problemas em atividades que exigem coordenação, como esportes
  • Dificuldade em organizar pensamentos ou relatar experiências
  • Coordenação entre mão e olho prejudicada
  • Discursos desorganizados e sem conexão ou coerência.

6. Deficiência Intelectual (DI)

A deficiência intelectual é um transtorno do neurodesenvolvimento, se caracteriza por limitações significativas nas habilidades cognitivas e adaptativas, como a capacidade de raciocinar, resolver problemas e lidar com o cotidiano, habilidades práticas, sociais, comportamento adaptativo, entre outras questões como a capacidade de aprender por exemplo.

Comportamentos comuns:

  • Atrasos no desenvolvimento da fala, locomoção e cognição
  • Dificuldade em compreender regras ou conceitos abstratos
  • Necessidade de apoio constante para atividades diárias
  • Interação social mais restrita
  • Progresso acadêmico mais lento

Assim, entendemos que compreender cada um desses transtornos não é tarefa simples, mas é um compromisso ético com a diversidade humana. Quando nos dispomos a conhecer, deixamos de lado os rótulos e assumimos uma postura mais empática e eficaz. E, mais do que isso, tornamo-nos aliados na jornada de cada criança em direção ao seu máximo potencial.

Sinais e comportamentos que merecem atenção

Nem sempre é fácil identificar que uma criança apresenta um transtorno do neurodesenvolvimento. Os sinais, muitas vezes sutis, podem ser confundidos com fases do desenvolvimento ou traços de personalidade. Por isso, o olhar atento e amoroso de pais e educadores é essencial, para oportunizar cada criança o cuidado, atenção e carinho que ela merece e precisa.

Sinais que merecem atenção:

  • Dificuldades persistentes na fala e comunicação
  • Ausência de contato visual ou de gestos sociais
  • Comportamentos repetitivos e inflexibilidade a mudanças
  • Agitação, impulsividade ou desatenção constantes
  • Isolamento social ou dificuldade em interações com outras crianças
  • Problemas de coordenação motora e autonomia
  • Desempenho escolar irregular sem causa aparente

Esses comportamentos, por si só, não indicam um transtorno. Cada criança tem seu próprio ritmo de desenvolvimento. Por isso, qualquer suspeita deve ser investigada com cautela por uma equipe multidisciplinar.

A importância do diagnóstico precoce e da intervenção multidisciplinar

Diagnosticar cedo não é rotular — é possibilitar. Quanto antes identificamos os sinais de um transtorno, mais cedo podemos intervir com acolhimento e estratégias eficazes.

Benefícios do diagnóstico precoce:

  • Acesso à plasticidade cerebral nos primeiros anos
  • Redução de frustrações e conflitos em casa e na escola
  • Fortalecimento da autoestima infantil
  • Planejamento de intervenções pedagógicas e terapêuticas

Profissionais que podem compor a equipe multidisciplinar:

  • Neuropediatra
  • Psicólogo infantil
  • Fonoaudiólogo
  • Terapeuta ocupacional
  • Psicopedagogo

Essa rede integrada promove o desenvolvimento pleno da criança, respeitando sua individualidade.

4. O papel da escola e dos educadores na inclusão verdadeira

O ambiente escolar deve ser mais que um espaço de ensino: deve ser um espaço de pertencimento. O educador é peça-chave na construção de uma escola que acolhe.

Práticas pedagógicas inclusivas:

  • Planejamento flexível e individualizado
  • Uso de materiais diversificados e acessíveis
  • Criação de rotinas claras e previsíveis
  • Ambiente emocionalmente seguro
  • Formação contínua dos profissionais

O educador que ensina com empatia transforma não só o aprendizado de uma criança, mas toda a cultura escolar.

5. Como as famílias podem apoiar o desenvolvimento das crianças com transtornos

A família é o primeiro espaço de amor e de escuta da criança. Quando há acolhimento em casa, a jornada se torna mais leve — mesmo nos momentos difíceis.

Como a família pode apoiar:

  • Informando-se sobre o transtorno com fontes confiáveis
  • Participando ativamente do acompanhamento terapêutico
  • Estimulando rotinas claras e previsíveis
  • Validando as emoções da criança e celebrando conquistas
  • Cuidando de sua própria saúde emocional

Famílias presentes, mesmo imperfeitas, são alicerces preciosos.

6. Compreender para incluir: por uma educação mais humana e transformadora

Compreender é o primeiro passo da inclusão. É um ato de coragem e de amor. É olhar para a criança como um ser único, cheio de potências, e não como alguém a ser “consertado”.

Quando unimos conhecimento e afeto, técnica e sensibilidade, conseguimos construir ambientes verdadeiramente inclusivos — onde todas as crianças possam florescer com dignidade, respeito e amor.

Conclusão

Educar crianças com transtornos do neurodesenvolvimento é um chamado à nossa melhor versão: mais empática, mais paciente, mais atenta.
É um exercício diário de abandonar o “normal” como medida de valor e abraçar o “possível” como horizonte de crescimento.
A cada criança respeitada em sua singularidade, damos um passo rumo a uma sociedade mais justa, mais gentil, mais humana.

Que este artigo sirva como um lembrete: a compreensão é o primeiro passo da inclusão.
E você, educador, pai, mãe ou cuidador, é peça fundamental nessa jornada de amor, escuta e transformação.

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